Miguel Castro Caldas com André Serra (14 anos), Filipa Martins (15 anos), Juarez (14 anos), Patrícia Reimão (15 anos) e Wilson Quindombe (14 anos), do oitavo ano da escola secundária Gil Vicente.
Miguel Castro Caldas avec André Serra (14 ans), Filipa Martins (15 ans), Juarez (14 ans), Patrícia Reimão (15 ans) et Wilson Quindombe (14 ans), élèves de 4e au collègue Gil Vicente, Lisbonne. Traduction (plus bas) de Sylvie Morel-Joly
PESSOAS DO MUNDO
Eu estava de joelhos em cima da cadeira e a setora disse, se estás de joelhos em cima da cadeira sobe para cima da mesa, e eu subi, e ela disse: rua. E dizer rua é o mesmo que dizer: saia.
A setora de ciências envolve-se muito a explicar as coisas. Está a falar do átomo, pega num copo, começa a ver as moléculas dentro do copo, toca nelas, entra nas moléculas, mas ó setora, como é que eu posso entrar nas moléculas se eu não as estou a ver, eu não estou a ver as moléculas, ó setora, ninguém entra nas moléculas.
A contínua do bar é um bocado surda e eu pedi-lhe um croissant com chocolate, ah, queres pão com manteiga, e eu, não, quero um croissant com chocolate e ela deu-me um pão com manteiga. É aquela ali.
Um dia já tínhamos acabado as aulas e fomos para os matrecos e encontrámos uma embalagem de um preservativo fechada. As listas quando lutam para ganhar eleições desatam a distribuir preservativos. Enchi-o com água e só por isso tive de ir ao concelho e fiquei duas horas à espera do director.
Não fiz os trabalhos. Porquê? Não me apeteceu. Rua. Quando nos mandam para a rua, chamam uma contínua que nos leva para o saia, que é uma sala, o saia é uma sala para os que saíram. E depois está lá um professor que nos manda fazer fichas.
A setora para fazer o verbo “ser” precisou de três quadros, e nós lá atrás fazíamos concursos de arrotos e de peidos. O Tomás tem um arroto sobrenatural, é muito prolongado, mas o arroto do Ruben é pior que o do Tomás no bafo. Acaba o arroto e continua de boca aberta até às últimas. Então fizemos um concurso de bafos e pusemos vodka numa lata de ice tea para intensificar e a professora disse: aqui ice tea não, e nós, não é ice tea, é água.
Uma vez no saia o professor mandou-me fazer uma ficha e eu não fiz. E ele disse, não queres estar aqui, pois não? E eu disse não. Então podes-te ir embora.
Um dia a nossa colega Albertina atirou-me um preservativo à cabeça. Na altura das eleições enchem a escola de preservativos. Foi voando de um lado para o outro até que foi parar à mochila da setora, mas ela não viu. Uma colega chibou-se e toda a gente que tocou no preservativo foi suspensa três dias. Olha agora se tivesse sido um papel amarrotado.
O meu teste caiu no chão. A setora disse que eu estava a copiar, mas eu não estava. O teu teste está anulado, e fez logo um risco no teste. Eu pus a música das galinhas a bailar no telemóvel e dancei em cima da cadeira, e a setora disse: rua.
Onde é que fica a rua?
Não sei. Levaram-me para o saia.
Andei à pêra com o Álvaro ao pé dos contentores e então fui suspenso três dias. Eram os últimos dias de aulas. Foi a minha alegria total. Comecei as férias mais cedo e passei de ano.
Tu não sabes amar
E tu, sabes?
Sei.
Já amaste alguém?
Não, mas já gostei a sério.
Lá na igreja dizem que não podes dar linguado. O problema não é o linguado, mas é o que tu pensas, porque tu não pensas no panda enquanto dás linguado. Também não podes olhar para o rabo de uma miúda. E não podes ouvir música do mundo, só gospel. Mas eu dou linguados e oiço música do mundo na mesma.
E sofres?
Quê? Não. O máximo que fiquei foi triste. Quatro dias.
Mas eu um dia vou conseguir, eu acredito 80% em deus.
É como a setora de ciências. Quer que pôr-nos a entrar nas moléculas. Mas ó setora, eu não estou a ver as moléculas. Ninguém entra nas moléculas.
Eu não sou baptizado, não li a bíblia, sou mesmo normal, sou mesmo pessoa do mundo.
E tenho um amigo que consegue. Ele disse, eu agora já não sou do mundo.
Não és do mundo, então és de onde?
Ele explicou-me mas eu já não me lembro.
DES PERSONNES DU MONDE
J’étais à genoux sur ma chaise et la prof m’a dit, si tu es à genoux sur ta chaise, monte sur la table, et je suis monté, et elle a dit : dehors. Et dire dehors c’est la même chose que de dire : la porte.
La prof de sciences vit à fond les choses qu’elle nous explique. Elle parle d’atome, attrape un verre, commence à observer les molécules à l’intérieur, elle les touche, entre dans les molécules, mais madame, comment est-ce que je peux entrer dans les molécules si je ne les vois pas, je ne vois pas les molécules, mais madame, personne n’entre dans les molécules.
J’ai pas fait mes devoirs. Pourquoi ? J’ai pas eu envie. Dehors. Quand ils nous envoient dehors, ils appellent une surveillante qui nous amène à la porte, qui est une salle, la porte c’est une salle pour ceux qui ont pris la porte. Un prof y est et il nous fait faire des fiches.
Pour faire le verbe être, la prof a eu besoin de trois tableaux et nous derrière, on faisait des concours de rots et de pets. Tomas fait des rots incroyables, qui durent, mais ceux de Ruben durent encore plus longtemps. Après son rot, il continue de souffler, la bouche ouverte, encore et encore.
Une fois, à la porte, le prof m’a dit de faire une fiche et je l’ai pas fait. Et il a dit, tu n’as pas envie d’être ici, c’est ça ? Et j’ai dit non. Bon, tu peux t’en aller.
Mon interro est tombée par terre. La prof a dit que j’étais en train de tricher, mais c’est pas vrai. Mon interro a été annulée, et elle a barré ma copie. J’ai mis la “chanson des poulettes” sur mon portable et j’ai dansé sur ma chaise, et la prof a dit : dehors.
C’est où dehors ?
Je sais pas, on m’a amené à la porte.
Je me suis bagarré avec Álvaro près des poubelles et alors j’ai été viré 3 jours. C’était les derniers jours de l’année. J’étais super content. J’ai commencé les vacances plus tôt et je suis passé dans la classe au-dessus.
Tu ne sais pas aimer.
Et toi, tu sais ?
Oui.
Tu as déjà aimé quelqu’un.
Non, mais j’étais amoureux pour de vrai.
À l’église ils disent qu’on ne doit pas embrasser avec la langue. Le problème c’est pas la langue, mais ce que tu penses, parce que quand tu mets la langue tu penses pas vraiment aux bisounours. Tu n’as pas le droit non plus de regarder le cul d’une fille.
Et tu souffres ?
Quoi ? Non. Au maximum, j’ai été triste. Quatre jours.
Mais un jour, je vais y arriver, je crois en Dieu à 80 %.
C’est comme la prof de sciences. Elle veut nous faire entrer dans les molécules. Mais madame, je les vois pas les molécules. Personne n’entre dans les molécules.
Moi je ne suis pas baptisé, je n’ai pas lu la bible, je suis vraiment normal, je suis vraiment une personne du monde.
Et j’ai un ami qui y arrive. Il dit, moi maintenant, je ne suis plus du monde.
Tu n’es plus du monde, alors tu es d’où ?
Il m’a expliqué, mais je ne me souviens plus.